Esse constitui o “outro post” do qual falei durante a “história do Embuá Branco”
Do pedaço daquilo que eu sou que se chama Corinthians, minha pequena nunca entendeu. Tantas vezes em seu colo verti lágrimas por conta do Corinthians [1], com tanta paixão que para ela deve ser como se eu estivesse chorando por causa d’alguma amante. Lá em seu colo. Procuro manter, sempre, bem claras minhas prioridades, suportando e curtindo o pedaço daquilo que eu sou que se chama Corinthians com o máximo de ‘religiosidade diletante’ e o minimo de fundamentálismo possível. Com o coração apertado mas isento de idolatria. Ainda assim, de forma velada, o mal entendido persiste (corro o risco de ser muito mal interpretado nesse post, por exemplo).
Ela não entende (tricolores as vezes não entendem). Sua incompreensão é tanta que quando seu time é derrotado sua reação é bem outra. Talvez por que eu seja um grande idiota, não é incomum entre corinthianos que beiram o retardamento mental (não se assustem, me mantenho razoavelmente civilizado).
De qualquer forma esses primeiros paragráfos foram escitos só para ilustrar uma diferença de pensamento intrinseca existente entre mim e a pequena (ah e pra fazer um pouco de “AUÊ” com meu Timão, fazia tempo não falava dele). Se a coisa toda ficasse por aí talvez a coisa toda fosse mais fácil, mas as diferenças vão mais além. Poderia salientar as diferenças entre Homem X Mulher; Esquerda X Direita; bairrista da zona Oeste X bairrista da zona Sul e tantas outras. No entanto, o que tem me tocado o coração quando falo com a pequena, bem como nas minhas andanças por aí são nossas diferenças em enxergar e mesmo viver a fé Cristã (já falei um pouco disso aqui).
Descrever e pontuar de forma exata nossas distinções seria meio “sacal”. Basta dizer que ultimamente, cada vez mais, apontamos o nariz para aspectos diferentes de nossa fé.
Eu sou um Cristão que às vezes hesito em me descrever como evangélico (e não sou o único), falo mais palavrões do que devia, ando meio anti-clerical, flerto sem medo com as mais diversas idéias teologicas. Acabei de ler um livro sobre pedagogia libertária e estou doidinho pra ler “Ortodoxia Generosa” e “Cristianismo Pagão”. Um “Nó Cego” exemplar. Se me deixarem passo o dia falando sobre Deus, biologia evolutiva e o Corinthians (interesses que deram origem a esse blog).
A pequena não hesita! É evangélica e acha importante que a mulherada use veú durante as celebrações. Acredita e defende com unhas e dentes a instituição igreja, não gosta que eu fale palavrão, mas deixa escapar um de vez em quando. Ela anda ouvindo muito Megadeth e lendo muito de um cara chamado “Daniel Mastral” que anda influenciando ela bastante. Se deixarem ela passa o dia falando de Deus, anjos, demônios, ministração, o Mastral e o Dave Mustaine.
Às vezes meu coração fica pesado, a pequena me ensina muito (MUITO) a respeito do que é seguir a Cristo, e caminhamos juntos. Sinto que temos seguido caminhos diferentes em relação a fé Cristã e, embora discorde dela lá e cá, não creio que nenhum de nós dois estejamos ' errados'. Vejo que se aprendermos a trocar idéias possamos ter uma vivência Cristã mais rica.
As vezes meu coração fica pesado e eu fico encafifado. Mas desde que comecei a escrever esse post (no domingo), recebi duas respostas em relação a isso! A primeira, mais importante, veio de São Paulo em sua Carta aos Corinthios:
“Irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo suplico a todos vocês que concordem uns com os outros no que falam, para que não haja divisões entre vocês; antes, que todos estejam unidos num só pensamento e num só parecer” (1Corinthios 1, versículo batatinha).
Não sei bem o que tirar de tudo isso. Paulo pode, a primeira vista, parecer um bobão, mas quem lê o capítulo todo sabe que o homem não está falando de robozinhos ‘uni-partidários’, está falando de Cristo. Não concordo com Mastral, a pequena não concorda com Tillich, mas isso não importa frente a Jesus Cristo! Integração não é sinonimo de invariabilidade estática [2]. É o compromisso de amar e de negar-se a sí mesmo que rege a vida de quem quer seguir a Cristo. Ser “de Paulo”, “de Apolo”, isso tudo não existe! Me lembra aquele trecho de Atos: “E era um o coração e a alma da multidão dos que criam...” (Atos 4: trinta-e-poucos). Pode parecer facil, mas não é! É verdadeiramente difícil! Pois implica em diálogo em vez de debate e em ouvir, ser ouvido, falar e deixar falar. E eu ainda não consegui fazer direito (uma crentinice sem dúvida).
Me parece claro que buscar o Deus que não dá pra entender é muito mais valido do que entender o Deus que não dá pra buscar (pois é Ele quem busca e Ele que se apresenta). Abobrinhas, essas sempre vão existir e eu perco sono com elas (literalmente). Eu e a pequena lutamos para se entender e para fazer dessa comunidade chamada de “Cristianismo” uma coisa melhor. É assim que tenho tentado interagir como Cristão, onde quer que eu vá. A pequena continua me ensinando, e continuamos caminhando juntos, em Amor, em Fé e em Esperança.
Termino com a segunda opinião que recebi de um colega, essa mais ousada, mas que também ouviu os conselhos de Paulo. Embora não reflita necessariamente minhas opiniões, me deu um pouco pra pensar:
“Emiliano, o Teólogo protestante Paul Tillich irá conformar o evento Jesus Cristo como doador da História, des-alienando-O da cultura hebraíca que o pensou, e O situando no Meio da História, doador da História, o Símbolo perfeito do Pai que harmonizará as três dimensões do tempo e da história: passado, presente e futuro, e entre o tempo e a eternidade, entre o divino e o humano.
Em Jesus se realiza a Humanidade Essêncial e não a Existencial.
E esta conformação da História ao Evento Jesus Cristo, santifica todo o sentido simbólico de Sua humanidade, estendendo-O à toda Sua manifestação do divino, presente entre todas as culturas, em todas as dimensões temporais.
Se professamos Jesus Cristo como sentido das nossas vidas, haveremos de O conceder a todas as pessoas que são simbolizadas nele, e por Ele passam a ser divinas, porque de outro lado , Jesus seria o refém de um povo, o hebreu, o que não foi historicamente, ou refém de um Livro, o que contradiz o Seu sentido Simbólico de ser a Revelação de Deus.
E se cremos que Deus é tudo , então devemos ter a coragem de aceitar Sua totalidade nas várias crenças .
Você quer reduzir à pluralidade de Cristo nas várias manifestaçãoe do cristianismo, eu quero dar um passo além e ver Jesus Cristo em todas as manifestações onde o Homem busca sua ligação com o Divino.
Porque, ao contrário, meu caro amigo Emiliano, Jesus não seria Tudo em Todos como diz Paulo, seria um refém de nossas idiossincrasias , de nossos desejos de nos apropriarmos de um evento que envolveu tudo e todos, por ser Alfa e Omega, por ser o Principio e o Fim de todas as coisas e de seus sentidos.
Um passo corajoso, mas é assim que eu ando pensando a Teologia, no seu aspecto simbólico, que trata do divino que é o Ápice e não rés, do nosso chão e quadradinho.
Paz e Bem !”
é isso aí amig@s
Amo vocês
Paz de Cristo
[1] me vem a memória o dia dos namorados que caiu no dia seguinte a derrota do Timão para o Sport de Recife na Copa do Brasil de 2008. Mesmo que esse ano, com o Inter, a história se repita. É bom que o dia dos namorados já tenha passado a algum tempo...
[2] dúvida? Estude genética quantitativa.