quinta-feira, 6 de outubro de 2011

#WSJscience e a ciência que as pessoas veem

Na semana passada tive a oportunidade de ver pessoas se interessando por física! O grande apito era a parada dos neutrinos viajando mais rápido que a velocidade da luz. Mas houveram ainda outras notícias. Uma pessoa que eu prezo muito no twitter comentou a seguinte notícia sobre a expansão do universo.

Comentando sobre como as tais massas escuras podem explicar a expansão acelerada do universo. O papo via tweets logo migrou para os tais neutrinos e um dos comentários me chamou a atenção “de fato, quebra-se um paradigma depois do outro”.

Como sou leigo no assunto, minha curiosidade sobre o assunto é diletante, não vou comentar nada desse papo dos neutrinos.

Em vez disso vou comentar sobre essa visão de que: “nada se sabe, os paradigmas estão mudando o tempo todo então como dizer o que é verdade e o que não é?!”. Um exemplo excelente e idiota disso veio do “Wall Street Journal” e rendeu uma Hashtag no twitter ( #WSJscience ). Gente melhor que eu já comentou essa parada aqui e aqui. Vale a pena ler logo mais.

Robert Brice, em uma coluna comentando 5 verdades sobre aquecimento global manda essa perola de inacuidade científica:

The science is not settled, not by a long shot. Last month, scientists at CERN, the prestigious high-energy physics lab in Switzerland, reported that neutrinos might—repeat, might—travel faster than the speed of light. If serious scientists can question Einstein's theory of relativity, then there must be room for debate about the workings and complexities of the Earth's atmosphere.

“A ciência não tem um consenso, nem de longe. Mês passado cientistas no CERN, o renomado laboratório de física de alta energia na Suiça, escreveu uma reportagem de que neutrinos podem –repito, podem- viajar mais rápido que a velocidade da luz. Se cientistas sérios podem questionar a teoria da relatividade de Einstein, então deve haver espaço para debate sobre os trabalhos e complexidades da atmosfera da terra”

Muito bonito não?! Concordo plenamente!! Muita gente diz que o Corinthians nunca ganhou uma libertadores, mas se cientistas sérios podem assim, sem mais nem menos, questionar EINSTEIN, então deve haver espaço para debate sobre as nuancias e particularidades dos torneios de futebol (quem sabe até uma estrelinha no escudo, não?)

A piada é de mal gosto, mas reveladora! Por trás da afirmação jaz a mesma desconfiança em relação a ciência: “Paradigmas estão mudando o tempo todo, como podemos apreender coisas acerca da nossa realidade.”

Acho que a primeira resposta para dar para tal afirmação é a de que – ao menos em algum nível – nós simplesmente podemos. Ou você acha que comentaristas em mesas redondas deveriam estar discutindo se de fato o Corinthians nunca ganhou uma libertadores meeeeesmo?

Bem, física é mais difícil de discutir que futebol. E que legal que paradigmas nessa ciência estão sendo quebrados a torto e a direito (Será mesmo??). Físicos devem estar absolutamente extasiados!!

Bem, mas vamos supor por um instante que neutrinos realmente viajem mais rápido que a luz (o que provavelmente não é o caso). E que os físicos tivessem que derrubar uma base teórica para construir outra no lugar (de novo, muito provavelmente não é o caso). Será que jogariam Einstein no lixo? Não sei não, mas sei que o GPS no seu carro funciona que é uma beleza. A razão pela qual qualquer GPS não acumula, todos os dias, erros quilométricos é que as coordenadas de satélite, são corrigidas pela relatividade einsteiniana! A relatividade da certo! Funciona, ela explica uma porrada de coisa! Se os físicos tivessem que derrubar esse edificio, teriam de erguer um outro que explicasse tudo que a relatividade explica e mais os benditos neutrinos (de novo, provavelmente não vai acontecer nada disso).

[sobre GPS e relatividade]

(Em um parenteses é bom explicar: É por isso que não adianta perguntar “E se a teoria da evolução estiver errada?”. Se ela estiver errada, vamos ter que pensar em uma outra base teórica que explique tudo que a TE explica e mais o que ela não explicar. Isso inclui o fato de que espécies de seres vivos compartilham ancestrais).

Vamos ao próximo ponto: o fato de os fisicos terem ou não um consenso sobre neutrinos, não diz nada, nada, nada, nada, nada, nada sobre o consenso dos cientistas em relação a alterações climáticas antrópicas! Discussões que rólam no meio científico giram em torno de experimentos e evidências. Da mesma forma que discussões em mesas redondas de futebol giram em torno de resultados e lances gravados. Lógico existem as polemicas ocasionais, algumas das quais insoluveis mesmo depois de observadas com replay em câmera lenta e por vários ângulos. E lógico que alguns comentaristas têm lá seu viés. Mas se o jogo terminou 3X2, ninguém vai falar que não foi 3X2. Nesse sentido a ciência continua num nicho bem distinto da teologia (contrariando ainda outro tweet que lí por aí vindo de alguém que admiro).

Mais uma vez, a coisa é mais complicada que futebol. Mas esse é o primeiro post que vomito desde o começo do ano então acho que está bom parar por aqui não.

Quem quiser um blog com informações legais de físicas sugiro fortemente o blog do Sean Carrol

Paz

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Chamada para textos – revista eletrônica Espiritualidade Libertária n. 3 (1. sem. 2011)


A revista Espiritualidade Libertária está chegando à sua terceira edição. Ela teve inicio a partir dos dialogos e discussões que surgiram do grupo que se reunia (e ainda se reune) no centro cultural Vergueiro pra discutir, de forma sempre despretenciosa, assuntos acerca de espiritualidade e anarquia (para um breve balanço das tais reuniões clique AQUI). O dossiê temático da primeira edição foi "O pensamento de Jacques Ellul"; O tema da segunda edição foi "Gênero, sexualidade e religião". E o dossiê temático da presente edição é "Espiritualidade e Evolução Biológica" e, vocês já devem ter adivinhado, estou fazendo parte do corpo editorial!
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Já ouvi criticas de que o tema da revista foge um pouco do fóco que a públicação pretende ter, mas creio que a pluralidade dentro dos temas da revista reflete a pluralidade do próprio grupo de pessoas que têm se proposto a se sentar junto, conversar, discutir, planejar e agir e de vez em quando tomar uma cerveja junto. Além disso acho que essa revista pode contribuir de forma interessante para quem quer se posicionar nos relacionamentos, pontos de contato, atritos e brigas entre as ciências naturais e a religião. Minha vontade seria receber textos diversos de todo o tipo de gente conversando, discutindo e refletindo sobre as nossas descobertas acerca do mundo natural e em como isso influência em nossa Espiritualidade (ou falta dela) e visão de mundo.

Deêm uma olhada na chamada para texto AQUI


Convidamos vocês a participarem da nossa revista. Enviem seus textos até o dia 31 de maio de 2011 para o e-mail da revista. Neste número (n. 3 – 1. sem. 2011) teremos o dossiê: Espiritualidade & Evolução Biológica. No entanto, receberemos também textos para a seção livre. Vejam também o arquivo daChamada para textos com a Política Editorial da revista.

Para o dossiê Espiritualidade & Evolução Biológica, pedimos o envio de textos que busquem tanto um diálogo e interação entre o entendimento científico da realidade e a vivência espiritual, bem como a análise crítica de pontos de atrito nos quais o ponto de vista religioso e a análise científica parecem colidir. Em particular, o desenvolvimento, do movimento “Criacionista/Design-inteligente”, iniciado nos Estados Unidos, mas que tem se disseminado, particularmente no Brasil, no meio evangélico. Dado o espaço que tais grupos disseminando o Criacionismo/Design-Inteligente têm conseguido – uma matéria publicada em 2 de abril de 2010 na Folha de São Paulo (disponível na página:http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u715507.shtml) revelou que 25% dos entrevistados acreditam que o ser humano foi criado a partir de um ato sobrenatural há menos de 10 mil anos –, seria interessante abordar seus argumentos e objetivos, bem como o contexto social e histórico em que tais idéias se desenvolveram e se mantêm.

É importante ainda, abordar pontos de contato e pontes, nas quais o conhecimento científico, bem como o conhecimento teológico e filosófico, possam se aliar no papel de desvendar mais acerca da realidade que nos cerca. E ainda a capacidade do conhecimento científico em moldar e alterar a nossa visão de mundo e, portanto, a nossa vivência espiritual. Nas palavras de Carl Sagan:

Será que tentar perceber de alguma maneira o universo revela uma certa falta de humildade? Creio que é verdade que a humildade é a única resposta adequada perante o universo, mas não uma humildade que nos impeça de procurar descobrir a natureza do universo que estamos a admirar. Se procurarmos essa natureza, então o amor pode ser inspirado pela verdade, em vez de se basear na ignorância ou na auto-ilusão. Se existe um Deus criador, será que Ele ou Ela ou Isso ou seja qual for o pronome apropriado preferiria uma espécie de cepo embrutecido que o adorasse sem nada compreender? Ou preferiria que os seus devotos admirassem o universo real em toda a sua complexidade? Quanto a mim, parece-me que a ciência é, pelo menos parcialmente, adoração informada. (Carl Sagan in The Varieties of Scientific Experience: A Personal View of the Search for God. Nova York: The Penguin Press, 2006)

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We invite you to join us and collaborate with our online magazine. The deadline to submit papers is 31st May. To do so, please email them to the e-mail addressof the magazine. In this issue (n.3 – 1st semester 2011) we will be having a dossier: Spirituality and Biological Evolution. However, submitted papers for the free section will be welcomed as well. For further information see also the editorial policy followed by the magazine in the Call for Papers.

On the third edition of Espiritualidade Libertária, for the dossier Spirituality and Biological Evolution, we invite you to submit papers that seek dialogue and interaction between the scientific understanding of reality and spirituality, as well as a critical analysis of points of conflict in which the religious and scientific points of view seem to collide. In particular the development of the “Creationist/Inteligent-Design” movement, which first developed in the U.S., but has been spreading particularly amongst evangelicals. Given the space that these groups have gotten lately – the newspaper Folha de São Paulo published in April 2nd, 2010 a poll that revealed that 25% of people interviewed believe that human being was created from a single supernatural act of creation about 10.000 years ago (see:http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u715507.shtml) –, it would be interesting to approach critically they arguments and goals, as well as the social and historical context in which these ideas have first developed and spreaded.

It is important still to approach bridges and points of contact, in which the scientific knowledge, as well as theological and phylosofical knowledge, may ally in revealing more about the reality that surround us. And also the role of science to guide and influence our world view and hence our spirituality, in the words of Carl Sagan:

Does trying to understand the universe at all betray a lack of humility? I believe it is true that humility is the only just response in a confrontation with the universe, but not a humility that prevents us from seeking the nature of the universe we are admiring. If we seek that nature, then love can be informed by truth instead of being based on ignorance or self-deception. If a Creator God exists, would He or She or It or whatever the appropriate pronoun is, prefer a kind of sodden blockhead who worships while understanding nothing? Or would He prefer His votaries to admire the real universe in all its intricacy? I would suggest that science is, at least in part, informed worship. (Carl Sagan in The Varieties of Scientific Experience: A Personal View of the Search for God. New York: The Penguin Press, 2006)


Aguardo muitos textos e espero um resultado legal

Paz de Cristo

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

7 Bilhões

Video interessante da "National Geographic Magazine". Algo para se começar a pensar em 2011.

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Paz

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Um natal evolucionário!

O blog está paradão, mas não está morto!
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E resolvi escrever uma coisinha no Natal!
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Um presentão de Natal que eu tenho ganhado é o "Advent of Evolutionary Christianity". Trata-se de um projeto do Reverendo Michael Dowd. Nunca lí nada do homem, mas já ouvi muitas criticas provenientes até mesmo de Cristãos evolucionistas mais conservadores, que o acusam de abraçar uma espécie de pan-teísmo à-la Carl Sagan.
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O projeto em sí é composto de entrevista feitas pelo próprio Dowd de grandes nomes no meio de ciência e fé durante todo o período do Advento. Entrevistas geniais incluem Denis Lamaroux, Brian McLaren, John Polkinghorne, Ken Miller, John F. Haught entre muitos, muitos outros.
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As entrevistas podem ser baixadas pela net AQUI. Já tive a oportunidade de ouvir algumas e achei GENIAL! Eu sinceramente recomendo, são conversas informais, que, para mim, tem sido extremamente tocantes e edificantes! Em particular as conversas com o Lamaroux e com o Brian McLaren.
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Realemente, não concordo com todas as opiniões do Dowd, mas as entrevistas são muito, muito legais! Vale a pena conferir!!


Paz de Cristo

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Palestra com Francis Collins

The Language of God: A Scientist Presents Evidence for Belief from The Veritas Forum on Vimeo.


Uma palestra muito interessante com o Francis Collins. Onde ele, além de estar usando uma gravata muito legal e muito nerd, fala sobre como ele encontrou sua fé e como isso se relaciona com sua carreira de cientista.

OK, é um filminho looongo, mas vale mesmo a pena assistir! é bem bacana.


Paz de Cristo


quarta-feira, 22 de setembro de 2010

video: Pastor Marcos Monteiro sobre as Eleições 2010

Por algum tempo eu pensei se pronunciava ou não -brevemente- minha opinião acerca dessas eleições, em particular, acerca do filmezinho do Pastor Piragine que circula na NET (pra quem ainda não recebeu 3 ou 4 emails com o videozinho encaminhado e quiser assistir, procure Paschoal Piragine no youtube).

A verdade é que fiquei até que contente! Fiquei contente com as diversas críticas e observações feitas ao filminho do Piragine. Em particular, ao fato de que tais criticas -embora não tenham feito tanto susseso quanto o próprio filme- foram bastante plurais, ou seja, adivindas de diferentes pontos do espectro politico/religioso evangélico e não apenas de 'esquerdistas' e/ou 'liberais'. Talvez eu esteja equivocado, mas a meu ver isso mostra personalidade do meio evangélico brasileiro de -a despeito de posicionamento político- não adotar a postura simplista, reducionista deu que o posicionamento Cristão na politica é ser anti-aborto, anti-gay e demonizar a esquerda. Apesar de ter sido um dos que receberam 3 ou 4 emails encaminando o video do Piragine no youtube, as críticas que ouvi (seja no tweeter; em conversas ao vivo -sim algumas pessoas ainda mantém conversas presenciais orais; ou em blogs por aí), me mostraram que Cristãos estão cientes de que "iniquidade" tem a ver com injustiça social, com abuso e corrupção e não se delimita a (ou necessariamente inclui) homossexualismo / legalização do aborto. Bem como a suspeita de todo discurso "Atenção igreja: siga minha posição política ou Deus vai te castigar".

Bem, já falei demais. Abaixo tem um videozinho bacana do Pastor Marcos Monteiro que, pelo menos pra mim, fala melhor sobre consciência política Cristã:






Paz de Cristo
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O Silas Fiorotti escreveu um breve texto acerca do video do Piragine no zine 'Disturbios Sociais', vale a pena ler e conferir os links que ele indica AQUI

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Sobre as afirmações de Stephen Hawking

Eriçou minha curiosidade, nessa semana que passou, o lançamento do novo livro de Stephen Hawking, no qual, entre outras coisas, ele dispensa Deus na origem do Universo. Em meio a citações do físico mais popular da atualidade dizendo que o "porque existe uma lei como a da gravidade, o universo pode e ira criar-se a sí mesmo do nada" (tirado DAQUI, tradução livre), acabei me deparando com muita gente jogando confete, muita gente metendo o pau e muita pouca gente que tinha -de fato- lido o livro do homem. A coisa toda me deixou com a pulga atrás da orelha...
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Do que estamos falando?
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Cá eu, não sei nem o que é 'Teoria M'. Também não lí o livro do homem, e seria sabio da minha parte, talvez, me abster de escrever um post longo e maçante sobre esse assunto, atacando a ciência que eu não entendo ou defendendo minha fé de suas garras (sejam lá quais forem, exatamente, essas garras). De fato, este post não tem essa intenção e nem existiria não fossem por duas coisas: A primeira delas é que, sem muita força, eu encontrei uma porrada de textos, filminhos e links bacanas acerca de toda a controvérsia que essa história levantou. A segunda é que um colega (um desses que a gente conhece pela net), pediu minha opinião a respeito dela. Acabei achando que isso tudo daria um post legal.
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Em primeiro lugar, tem esse filminho bacana, do físico teorico Sean Carroll (não confundir com o biologo Sean B. Carroll) trocando em miudos as afirmações de Hawking acerca do universo e de Deus (que eu tirei DAQUI). Acho que esse filminho é um bom começo para essa história toda:
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O universo, então, 'se cria sózinho'. A física moderna - Stephen Hawking nos informa - mostra que o universo, obedecendo suas próprias leis, pode (ou inevitavelmente ira) 'se criar a sí mesmo' e se desenvolver até o ponto que observamos hoje. Isso -segue o argumento- não deixa nenhum espaço para a 'intervenção divina'. Sean Carroll põe as cartas na mesa: você até pode acreditar em um deus, mas trata-se de um deus que não criou nada e simplesmente não interage com o universo. Trata-se, sem dúvida, de um deus que ninguém poderia remotamente confundir com, por exemplo, o Deus das religiões abraamicas.
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Minha opinião é:
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Baseado no modelo newtoniano mecanicista, Laplace afirmou que a hípotese de Deus era inutil. Com as bases (quem sabe, mais sólidas) da relatividade e física quantica, Hawking parece chegar às mesmas conclusões. Mas acho que aí justamente está o problema. Deus, segundo O entendo -se é que entendo- não é uma hipotese cientifica, Ele É uma pessoa. Assim, minha fé não é abalada pelo fato de que não existe nenhuma 'lacuna' no mundo natural na qual Deus pareça 'caber'. Se de fato, Hawking matou de uma vez por todas o 'deus das lacunas', acho que ele fez um favor à fé Cristã. O Deus que encontramos na Bíblia (seja a percepção que os judeus tinham de um Deus de poder no AT ou a percepção de Deus de Amor recebida pelos apostolos atráves de Jesus no NT) é de alguma forma distinto do Deus 'intelectualmente satisfatório' que aparece no final de uma linha argumentativa ao qual Tomás de Aquino dava ênfase.
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O universo 'funciona sózinho'. É claro que funciona! Ele não precisa de qualquer 'gambiarra sobrenatural' para funcionar. Eu acredito que a autonomia do universo está intimamente relacionada com Deus ter descrito sua criação como 'muito boa'. Não existe (ao que tudo parece indicar) nenhum canto escuro inexpugnável e inexplicável onde uma força sobrenatural deve ter atuado para que as coisas tenham seguido seu curso, O universo é capaz de se desenvolver sózinho.
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Ao mesmo tempo, não creio que a explicação de Hawking para a 'existencia de tudo' seja completa. Acredito profundamente que Deus está por detrás da elegancia dessa autonomia e que Ele a permita e a Sustente (Deus fez assim, e não deixou nenhuma "ponta solta"). É mais embasbacante para mim que o universo com regularidades tão 'simples' e 'elegantes' tenha a autonomia necessaria para se desenvolver desde seu principio, se organizar e, em algum (ns) cantinhos específicos, produzir vida e, na vida, a capacidade para evoluir às formas mais variaveis incluindo uma(s) capaz de reconhecer o seu próprio lugar no cosmos e buscar respostas acerca do sentido disso tudo. Longe de 'quebrar o encanto', a beleza que reconheço nesse processo todo alimenta de alguma forma a fé que professo, não com a certeza de uma hipótese corroborada, mas na percepção da beleza e da maravilha do cosmos. Trata-se de fé e não 'corroboração empirica', ainda assim, diante das próprias 'leis' que possibilitam a existência, seu desabrochar dinamico e vivo, considero minha opinião coerente.
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A Criação, eu creio, não possui pontas soltas que precisam ser remendadas de forma sobrenatural, não se trata tanto de que Deus 'não faz nada', mas antes, de que Deus faz tudo.
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Links, sites e opiniões interessantes
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Bem, essa é a minha opinião. Aliás, a resposta a cima foi exatamente o que escrevi, por email, ao camarada que perguntou minha opinião. Mas isso não é de forma alguma o final da discussão (muito pelo contrário, acho que pode até ser o começo).
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O blog da Scientific American também postou um texto bacana discutindo as afirmações de Hawking e a evidência de Deus.
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Ainda, o blog "Tubo de Ensaio" também postou (AQUI) sobre as afirmações e o livro do Stephen Hawking e prometeu se aprofundar no assunto em posts subsequentes. Marcio Campos nos explica que o 'nada' do qual, segundo Hawking, o universo inevitávelmente surge sózinho, não é bem 'nada', uma vez que necessita de regularidades físicas pré existentes. Ele escreve:
Quando os crentes dizem que Deus tirou o universo do nada, é nada mesmo. Se algo já existe, ou é, não estamos mais no nada ontológico. Um amigo, no Twitter, citou um exemplo tirado de um fórum ateísta: "cientistas já realizam uma creation ex nihilo, em laboratório, criando matéria do nada, apenas usando luz." Só esqueceram de avisar o sujeito que a luz existe, então não houve "criação a partir do nada". Da mesma forma, um amigo leitor do Tubo descreveu a situação nesses termos: se o que permite a criação "do nada" proposta por Hawking é a lei da gravidade, então não estamos no nada ontológico. Ainda que não existisse a matéria, nem a energia, existiria a lei e isso já é suficiente para não estarmos mais no nada. A única maneira de contornar o problema é não atribuir "ser" à lei. Mas isso simplesmente não faz sentido.
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Além disso, o blog também cita dois links, ESSE de um texto do Chicago Tribune, escrito pelo Pe. Robert Barron e ESSE de um artigo do Catholic Herald por Quentin de la Bedoyere. Vale a pena ler ambos.
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Por fim, o filmezinho abaixo (que eu também chupinhei do Tubo) apresenta uma conversa entre Alister McGrath e Jon Butterworth sobre o tal assunto:




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Bem, é isso. Apesar de as vezes achar toscas essas discussões, acho que nesse caso houve a oportunidade de explorar um pouco das fronteiras entre ciência e fé. Sei lá, me deu um pouco pra pensar.
Paz de Cristo


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Adicionado em 13/09/2010:

Acabei de ler, no BioLogos um texto do Karl Gibberson sobre as afirmações do Hawking. Ele foi públicado antes no The Huffington Post. Vale a pena ler: "Hawking’s Speculation: Everything Happens".

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Adicionado em 14/09/2010

Texto no site gringo da SciAm:

Cosmic Clowning: Stephen Hawking's "new" theory of everything is the same old CRAP

domingo, 22 de agosto de 2010

Meteorito

Tô pra lá da metade do livro ‘Milagres’ do C. S. Lewis.
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Muito bom sem dúvida, profundo e edificante, mas até aqui (e principalmente nos primeiros capítulos do livro) não pude deixar de franzir o cenho para algumas premissas e argumentos do autor. Nos capítulos subsequentes ele se aprofunda e a gente vê aqueles argumentos claros e cativantes que, volta e meia, servem como principio para reflexão, característicos do Lewis. Mas aquelas franzidas de cenho permanecem, um tanto indigestas. Isso não é de surpreender, claro. C.S. Lewis, do mesmo jeito que todo mundo, ás vezes falava besteira (de fato, o estranho seria encontrar um camarada que concordasse com tudo que o professor, estimado no meio Cristão, propusesse, sem criticas, ressalvas ou desenvolvimentos posteriores).

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A tal indigestão não veio em discodar do Lewis, mas naquela impressão engraçada de um mesmo ponto de vista abordado em seus aspectos distintos causando confusão. Não sei se o leitor já sofreu desse mal entendido, mas eu já (ok,ok, talvez eu seja meio retardado), e explico. Imagine duas pessoas discutindo um certo assunto e discordando veementemente entre sí. Até um certo momento em que ambas realmente “prestam atenção” no argumento uma da outra e percebem que, apesar deles verem e estarem abordando o assunto a partir de perspectivas totalmente diferentes, eles não discordam em nada (ou quase nada), acerca das conclusões a que estão chegando. Por conta do vocabulário, background, ilustrações ou exemplos distintos que as duas pessoas estão usando, há aparência de discórdia, mas colocado o argumento claramente na mesa, as diferenças somem ou se resumem a detalhes (é verdade que as vezes os detalhes são muito importantes). Bem... As vezes isso acontece comigo ok!

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Com o “Milagres”, talvez a solução do mal entendido tenha vindo exatamente com um poema escrito pelo próprio Lewis que jaz na primeira página do livro e que eu não havia visto até estar pra lá da metade do livro. O poema é bonito e toda essa introdução foi para dizer que vou transcreve-lo aqui. Para mim foi uma surpresa lê-lo, algo como “ahhh, então é isso? Bem, eu concordo com isso!!”. No geral ‘Milagres’ tá legal, tem argumentos sensacionais e também algumas coisas com as quais não concordo, não tô achando tão legal quanto ‘Problema do Sofrimento’ ou “Os Quatro Amores”, mas vale muito a pena ler.
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Vaí aí o poeminha.
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Meteorito
(C. S. Lewis)
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Entre colinas, um meteorito,
Com musgo a cobri-lo, imenso se guarda,
Os ventos e as chuvas com toques benditos
Da rocha os contornos, abrandam com calma.
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Assim pode a Terra tão fácil sorver
As cinzas das chamas do véu sideral,
E pode a visita lunar envolver,
Como ao nativo de um feudo real
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Nem é de estranhar que tais caminhantes,
No seio da Terra encontrem seu lar,
Pois cada partícula nela constante
Primeiro surgiu do espaço estelar.
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Tudo que é Terra já foi céu um dia;
Do sol do passado a Terra surgiu,
Ou de alguma estrela talvez erradia
Que perto demais do Sol explodiu.
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Se gotas tardias então inda caem,
Do espaço celeste neste chão criador
É que ainda aqui opera uma força do além,
A alegre torrente de chuva e esplendor
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Paz

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

A Sabedoria dos Parasitas, por Carl Zimmer

Mais um texto traduzido. Este é do Carl Zimmer. É meio antigo mas eu achei muito legal. Tirado DAQUI











Eu tenho o hábito de colecionar contos de parasitas da mesma forma com que algumas pessoas colecionam ‘action figures’. Tendo preenchido todo um livro com tais contos, eu pensei ter ‘completado toda a coleção’. No entanto, até agora eu havia deixado passar a o terrível e glorioso espetáculo protagonizado pela vespa Ampulex compressa.




Enquanto adulta, Ampulex compressa é semelhante as demais vespas, zunindo por aí e se reproduzindo. Mas as coisas começam a ficar esquisitas quando chega a hora de botar um ovo. Ela, primeiramente, encontra uma barata para servir de hospedeiro para o ovo e procede aplicando 2 ferroadas extremamente precisas na barata sem sorte. A primeira delas é aplicada na região mediana da barata, causando paralisia nas suas pernas dianteiras. A breve paralisia causada por essa primeira picada dá a vespa tempo precioso para que ela possa aplicar uma ferroada mais precisa na cabeça.




A vespa insere seu ferrão através do exoesqueleto da barata diretamente no interior de seu cérebro. Ela aparentemente se utiliza de sensores ao longo da lateral do ferrão para guia-lo, de forma mais ou menos semelhante a um cirurgião encontrando seu caminho até um apêndice inflamado através de uma laparoscopia. A vespa então continua a sondar o cérebro da barata até localizar um ponto em particular que aparentemente é responsável pelo controle do reflexo de fuga. Ela injeta um outro veneno que influencia estes neurônios de tal forma que o reflexo de fuga desaparece.




Visto de fora, o efeito é surreal. A vespa não paralisa a barata. Na verdade, a barata é capaz de levantar suas pernas dianteiras novamente e andar. Mas agora ela é incapaz de se mover por conta própria. A vespa toma uma das antenas da barata e a guia – nas palavras de um cientista israelita que estuda Ampulex – como um cachorro na coleira.




A barata-zumbi vai onde seu mestre a guia, tal lugar acaba, invariavelmente, sendo a toca da vespa. A barata adentra obedientemente na toca e espera calmamente enquanto a vespa sela a entrada da toca com pequenosenos seixos. A vespa então se volta para a barata mais uma vez e bota um ovo na sua região ventral. A barata não oferece resistência alguma. O ovo se choca, e então a larva através de mordidas, abre um buraco na lateral da barata. E procede para dentro do seu pobre hospedeiro.




A larva cresce dentro do seu hospedeiro, devorando seus órgãos internos, durante uns 8 dias. Ela então está pronta para se fechar em seu casulo – o que também ocorre no interior da barata. Depois de mais 4 semanas, a vespa se desenvolve em sua forma adulta. Ela se liberta do seu casulo, da mesma forma, saí da barata. Observar uma vespa adulta saindo de forma subita de dentro de uma barata traz a memória aquele filme ‘Alien’.




Eu acho essa vespa fascinante por diversas razões. Uma delas é que ela representa uma transição evolutiva. De novo e de novo, organismos de vida livre se tornaram parasitas, se adaptando a seus hospedeiros com delicada precisão. Caso você observe os hábitos de um parasita completo, pode ser difícil imaginar como ele pode ter evoluído de alguma outra coisa. Ampulex nos oferece algumas pistas, por que ela existe entre os mundos do parasitismo e da vida livre.




Ampulex não é técnicamente um parasita, mas tem um hábito de vida conhecido como ‘exoparasitóide’. Em outras palavras, um adulto de vida livre bota ovos externamente em relação a um hospedeiro e então a larva rasteja para dentro do hospedeiro. Podemos imaginar sem dificuldade os ancestrais da Ampulex como vespas que botavam ovos próximo a insetos mortos – como algumas espécies fazem hoje. Estes ancestrais carniceiros com o tempo evoluíram e se tornaram vespas que atacavam hospedeiros vivos. Da mesma forma, não é difícil visualizar uma vespa semelhante à Ampulex evoluindo e se tornando um parasitoide completo que injetam seus ovos diretamente no interior de seus hospedeiros, como muitas espécies fazem ainda hoje.




E tem também a ferroada. Ampulex não tenciona matar a barata. Ela não tem a intenção sequer de paralisar o animal da forma como aranhas e cobras fazem, uma vez que ela é muito pequena para arrastar uma barata grande e paralisada até sua toca. Então, ao invés disso ela apenas reprograma a rede neural da barata extirpando a sua motivação. Seu veneno faz mais do que transformar baratas em zumbis. Ele também altera o seu metabolismo, de forma que sua tomada de oxigênio cai para um terço do normal. Os cientistas israelitas descobriram que eles podem diminuir a taxa de consumo de oxigênio em baratas injetando substancias paralisantes ou removendo neurônios –os mesmos que a vespa inutiliza com sua ferroada. Mas eles conseguiram realizar apenas uma rude imitação; as baratas manipuladas desidratavam rapidamente e morriam em seis dias. O veneno da vespa de alguma forma faz com que seu hospedeiro fique em animação suspensa e ao mesmo tempo, saudável, mesmo enquanto a larva parasitoide o devora de dentro para fora.




Cientistas ainda não entendem como Ampulex realiza tais façanhas. Parte da sua ignorância é devida ao fato de que cientistas ainda tem muito para aprender acerca de sistema nervoso e metabolismo. No entanto milhões de anos de seleção natural permitiram que a Ampulex se tornasse capaz de realizar ‘engenharia reversa’ no seu hospedeiro. Seria interessante que nós seguíssemos o mesmo caminho, e ganhássemos a perspicácia dos parasitas.





É isso aí


Paz de Cristo

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Idade do universo, um filminho









Filminho excelente refutando alguns argumentos do Adauto Lourenço. Muito bom!





Tirado DAQUI.



Paz de Cristo