sexta-feira, 13 de agosto de 2010

A Sabedoria dos Parasitas, por Carl Zimmer

Mais um texto traduzido. Este é do Carl Zimmer. É meio antigo mas eu achei muito legal. Tirado DAQUI











Eu tenho o hábito de colecionar contos de parasitas da mesma forma com que algumas pessoas colecionam ‘action figures’. Tendo preenchido todo um livro com tais contos, eu pensei ter ‘completado toda a coleção’. No entanto, até agora eu havia deixado passar a o terrível e glorioso espetáculo protagonizado pela vespa Ampulex compressa.




Enquanto adulta, Ampulex compressa é semelhante as demais vespas, zunindo por aí e se reproduzindo. Mas as coisas começam a ficar esquisitas quando chega a hora de botar um ovo. Ela, primeiramente, encontra uma barata para servir de hospedeiro para o ovo e procede aplicando 2 ferroadas extremamente precisas na barata sem sorte. A primeira delas é aplicada na região mediana da barata, causando paralisia nas suas pernas dianteiras. A breve paralisia causada por essa primeira picada dá a vespa tempo precioso para que ela possa aplicar uma ferroada mais precisa na cabeça.




A vespa insere seu ferrão através do exoesqueleto da barata diretamente no interior de seu cérebro. Ela aparentemente se utiliza de sensores ao longo da lateral do ferrão para guia-lo, de forma mais ou menos semelhante a um cirurgião encontrando seu caminho até um apêndice inflamado através de uma laparoscopia. A vespa então continua a sondar o cérebro da barata até localizar um ponto em particular que aparentemente é responsável pelo controle do reflexo de fuga. Ela injeta um outro veneno que influencia estes neurônios de tal forma que o reflexo de fuga desaparece.




Visto de fora, o efeito é surreal. A vespa não paralisa a barata. Na verdade, a barata é capaz de levantar suas pernas dianteiras novamente e andar. Mas agora ela é incapaz de se mover por conta própria. A vespa toma uma das antenas da barata e a guia – nas palavras de um cientista israelita que estuda Ampulex – como um cachorro na coleira.




A barata-zumbi vai onde seu mestre a guia, tal lugar acaba, invariavelmente, sendo a toca da vespa. A barata adentra obedientemente na toca e espera calmamente enquanto a vespa sela a entrada da toca com pequenosenos seixos. A vespa então se volta para a barata mais uma vez e bota um ovo na sua região ventral. A barata não oferece resistência alguma. O ovo se choca, e então a larva através de mordidas, abre um buraco na lateral da barata. E procede para dentro do seu pobre hospedeiro.




A larva cresce dentro do seu hospedeiro, devorando seus órgãos internos, durante uns 8 dias. Ela então está pronta para se fechar em seu casulo – o que também ocorre no interior da barata. Depois de mais 4 semanas, a vespa se desenvolve em sua forma adulta. Ela se liberta do seu casulo, da mesma forma, saí da barata. Observar uma vespa adulta saindo de forma subita de dentro de uma barata traz a memória aquele filme ‘Alien’.




Eu acho essa vespa fascinante por diversas razões. Uma delas é que ela representa uma transição evolutiva. De novo e de novo, organismos de vida livre se tornaram parasitas, se adaptando a seus hospedeiros com delicada precisão. Caso você observe os hábitos de um parasita completo, pode ser difícil imaginar como ele pode ter evoluído de alguma outra coisa. Ampulex nos oferece algumas pistas, por que ela existe entre os mundos do parasitismo e da vida livre.




Ampulex não é técnicamente um parasita, mas tem um hábito de vida conhecido como ‘exoparasitóide’. Em outras palavras, um adulto de vida livre bota ovos externamente em relação a um hospedeiro e então a larva rasteja para dentro do hospedeiro. Podemos imaginar sem dificuldade os ancestrais da Ampulex como vespas que botavam ovos próximo a insetos mortos – como algumas espécies fazem hoje. Estes ancestrais carniceiros com o tempo evoluíram e se tornaram vespas que atacavam hospedeiros vivos. Da mesma forma, não é difícil visualizar uma vespa semelhante à Ampulex evoluindo e se tornando um parasitoide completo que injetam seus ovos diretamente no interior de seus hospedeiros, como muitas espécies fazem ainda hoje.




E tem também a ferroada. Ampulex não tenciona matar a barata. Ela não tem a intenção sequer de paralisar o animal da forma como aranhas e cobras fazem, uma vez que ela é muito pequena para arrastar uma barata grande e paralisada até sua toca. Então, ao invés disso ela apenas reprograma a rede neural da barata extirpando a sua motivação. Seu veneno faz mais do que transformar baratas em zumbis. Ele também altera o seu metabolismo, de forma que sua tomada de oxigênio cai para um terço do normal. Os cientistas israelitas descobriram que eles podem diminuir a taxa de consumo de oxigênio em baratas injetando substancias paralisantes ou removendo neurônios –os mesmos que a vespa inutiliza com sua ferroada. Mas eles conseguiram realizar apenas uma rude imitação; as baratas manipuladas desidratavam rapidamente e morriam em seis dias. O veneno da vespa de alguma forma faz com que seu hospedeiro fique em animação suspensa e ao mesmo tempo, saudável, mesmo enquanto a larva parasitoide o devora de dentro para fora.




Cientistas ainda não entendem como Ampulex realiza tais façanhas. Parte da sua ignorância é devida ao fato de que cientistas ainda tem muito para aprender acerca de sistema nervoso e metabolismo. No entanto milhões de anos de seleção natural permitiram que a Ampulex se tornasse capaz de realizar ‘engenharia reversa’ no seu hospedeiro. Seria interessante que nós seguíssemos o mesmo caminho, e ganhássemos a perspicácia dos parasitas.





É isso aí


Paz de Cristo

Nenhum comentário: