Não faço isso geralmente, mas irei transcrever neste post uma pergunta que fiz e algumas respostas que obtive no YahooRespostas. Pode parecer meio bobo, mas achei as respostas transcritas abaixo muito instrutivas e completas e que merecem divulgação neste espaço. Veja a pergunta AQUI
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Minha questão:
Resposta 1:
Estou lendo "Do Cativeiro Babilônico da Igreja", e, pelo que pude entender do que Lutero fala acerca da doutrina da 'transubstanciação', me pareceu que ele não nega que o corpo de Cristo esteja presente na comunhão. Ele apenas não aceita o embasamento 'aristotélico' da tal doutrina, que separava a 'substância' do pão de seus 'acidentes'. Durante a administração do sacramento, segundo a doutrina, a substância do pão se tornaria o corpo de Cristo, enquanto os acidentes (forma, cheiro, gosto etc) se manteriam como sendo característicos do pão..
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Então, queria saber se eu viajei grandão, ou se é isso mesmo. Ou ainda se Lutero mais tarde mudou sua opinião.
Resposta 1:
Meu caro Emiliano, Paz e Bem !
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Existem duas questões aqui, a primeira é que Lutero negava a Transubstanciação das espécies, que para nós [Católicos] é a presença real do Cristo nas espécies, alterando-lhes a substância , mas não a aparência. Ou seja, o pão e o vinho se transformam no corpo e no sangue de Jesus Cristo, embora na aparência continuem pão e vinho.
Santo Tomás de Aquino descreve isto bem no Hino que compos para a festa de Corpus Christi chamado " Adoro te devote", que traduzido do latim é assim:
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Eu vos adoro devotamente, ó Divindade escondida,
Que verdadeiramente oculta-se sob estas aparências,
A Vós, meu coração submete-se todo por inteiro
Porque, vos contemplando, tudo desfalece.
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A vista, o tato, o gosto falham com relação a Vós
Mas, somente em vos ouvir em tudo creio.
Creio em tudo aquilo que disse o Filho de Deus,
Nada mais verdadeiro que esta Palavra de Verdade.
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Na cruz, estava oculta somente a vossa Divindade,
Mas aqui, oculta-se também a vossa Humanidade.
Eu, contudo, crendo e professando ambas,
Peço aquilo que pediu o ladrão arrependido.
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Não vejo, como Tomé, as vossas chagas
Entretanto, vos confesso meu Senhor e meu Deus
Faça que eu sempre creia mais em Vós,
Em vós esperar e vos amar.
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Ó Jesus, que velado agora vejo
Peço que se realize aquilo que tanto desejo
Que eu veja claramente vossa face revelada
Que eu seja feliz contemplando a vossa glória.Amem
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Lutero acreditava na "Consubstanciação", ou seja, não acreditava na transformação das espécies em corpo e sangue do Cristo, embora acreditasse na presença real, que segundo ele, convivia com os acidentais.
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Mas Lutero não acreditava na Missa como renovação do sacrifício do Cristo, que se realiza exatamente na Eucaristia, e, além disto, os ministros luteranos não eram ( e continuam não sendo) , sacerdotes . Lutero não admitia o sacramento da Ordem, para ele o sacerdócio é universal, e não restrito a alguns que , como nós [Católicos] cremos, receberam o Espírito Santo na ordenação presbiteral o que os legitima para agir "in persona Christi", ou seja, agem como Cristo no ato da consagração, independentemente de seus pecados pessoais. Assim sendo, o pastor luterano não recebe o sacramento para poder agir na pessoa de Cristo na consagração das espécies. Porque sua autoridade não deriva da sucessão apostólica, que legitima o clero católico como herdeiros últimos dos primeiros, e que foram consagrados pelo Espírito Santo, e transmitiram a outros, e não a todos, a unção sacerdotal , que é derivada do sacerdócio real de Jesus.
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Um abraço
RESPOSTA 2:
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Estimado Emiliano,
Muito interessante sua pergunta. Lutero defendeu a presença corporal de Cristo na Ceia do Senhor ou Santa Ceia.
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Em 1529, houve o chamado "Colóquio de Marburgo", na Alemanha, onde os protestantes alemães e os reformados suiços procuraram definir uma Confissão comum de Fé. Do lado alemão, os principais eram Lutero e Melanchthon. Do lado dos reformados, Zwinglio, de Zurich, Ecolampadio, de Basileia, e Bucer, de Estrasburgo (esta entre Alemanha e França). Conseguiu-se um Acordo entre 14 pontos de doutrina, não se conseguiu acordo sobre a Ceia do Senhor. Zwinglio defendia a intgerpretação simbolico-memorialista, Lutero, a interpretação realista. Conta-se que Lutero, no auge da discussão com Zwinglio, escreveu na mesa ou no quadro, em latim, a frase "Isto é o meu corpo". Nem o cordato Bucer conseguiu uma conciliação.
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João Calvino, reformador de Genebra, que adere à Reforma cerca de 1533 ou 34, depois da morte de Zwinglio em campo de batalha (1531) vai defender a presença espiritual de Cristo na Ceia do Senhor, interpretação essa que vai prevalecer nas igrejas reformadas da França, Holanda, Suiça e nas Igrejas presbiterianas.
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A interpretação de Lutero ficou conhecida como "consubstanciação", o corpo de Cristo está presente "em, sob e com o pão". Na verdade, alguém já havia proposto essa idéia antes de Lutero. Antes da influência de Aristóteles na Escolástica não se usava o termo transubstanciação. Assim, não se justifica que apenas essa idéia seja a continuidade da Igreja do primeiro milênio. Os ortodoxos, por exemplo, usam, por vezes, o termo transmutação, com um sentido não exatamente igual ao de transubstanciação. Ambrósio de Milão, que batizou Santo Agostinho, era realista, acreditava na presença corporal de Cristo nos elementos da Ceia. Seu posicionamento pode ser reivindicado por católicos, luteranos e ortodoxos!
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Bem, gostaria de lembrar que creio que comungamos o verdadeiro corpo e sangue de Cristo na Ceia ou Eucaristia. Trata-se de um mistério, além de nossa compreensão racional. Tomás de Aquino também se referiu Eucaristia mais ou menos nesses termos (ver o livro "Os sacramentos na Tradição Reformada", S. Paulo, Fonte Editorial, 2005).
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Quanto à questão da sucessão apostólica levantada pelo Frei Bento [RESPOSTA 1], gostaria de lembrar que a mesma foi mantida no luteranismo nos paises escandinavos, através de bispos, bem como em algumas outras regiões. Hoje a tendência no luteranismo é a adoção do regime episcopal. Nos EUA um acordo entre luteranos e anglicanos prevê o reconhecimento mútuo das ordenações e no caso de novas ordenações deve estar presente um bispo luterano ou anglicano.
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Um abraço a todos!
Paz
Um comentário:
Legal você ter postado isso no seu blog. Discuti sobre o assunto recentemente num grupo de discipulado e indiquei o seu texto. Abração!
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