domingo, 14 de fevereiro de 2010

Deus não dá “reset”

É o que eu penso! Deus não dá “reset”. Ele não desiste –embora já tenha pensado sériamente no caso – Ele não se entrega (dãh). Mas o impressionante mesmo é que Ele não nos entrega (ao diabo, ao “deus dará” ou o que seja).
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Talvez seja esse o significado mais profundo que eu encontrei no relato Bíblico do dilúvio, talvez seja esse o significado do Arco-Iris, a promessa de Deus que Ele nunca mais (nunca mais mesmo) vai dar “reset” na sua Criação.
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Sem dúvida, o fato de eu pensar assim esta no cerne de porque eu não engulo a doutrina Espirita do reencarnacionismo, bem como certas interpretações escatológicas.
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(PARENTESES: no meio evangélico, onde, para muita gente ‘apologética’ é meter o pau na crença (ou descrença) alheia – algumas vezes falando um bocado de groselha – a gente tem que ter cuidado pra falar de coisa que não concorda, principalmente quando –e é o meu caso – não se é expert naquilo que se está criticando. Este aqui se propõe a ser um texto sóbrio e respeitoso de alguém que reconhece que pode estar muito bem falando merda, e cujo principal objetivo não é meter o pau na crença de ninguém. Antes, trata-se de um reflexo do meu anseio para entender algumas coisas e, no meio das chuvas catastróficas que tem abalado minha cidade, poder, no fim de tarde, olhar para um arco-iris, sabendo que aquilo significa que Deus não vai dar “reset”. Mesmo nesta cidade que, se fosse um PC, mereceria muito bem ser “formatada” )
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Mas é o que me parece sim. A meu ver, acreditar em reencarnação equivale a acreditar que sua alma é “formatada” de geração em geração. Para começar, já faz um tempo que eu não acredito muito em 'alma', pelo menos não no conceito de "essência pessoal separada da matéria". Essa história da distinção entre corpo e alma/ material e espiritual é basicamente uma herança do pensamento pagão grego para o Cristianismo (que influenciou grandão caras como Paulo e principalmente Agostinho). Não vou me aprofundar muito no assunto para não acabar falando bobagem (se é que já não é tarde), basta dizer que se eu acredito em 'alma', isso para mim se traduz nos padrões sinapticos dos neuronios dos nossos cérebros que determinam quem nós somos e são determinados, em certa medida, pela nossa herança genética, pelas nossas experiências etc. Em suma: você não é dividido em hardware e software, você é uma coisa só, integrada. Você é você! Se eu acredito que você, eu e todo mundo possui uma saída USB * que se conecta ao Transcendente (ao Espirito de Deus) a resposta é sim, mas não acredito em alma ‘fantasminha’.
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E neste sentido, também não me parece coerente com o pouquinho que eu conheço de Deus que a alma ou espírito seja submetido a diversas ‘formatações’ e aquilo que se chama “Emiliano” seja perdido, formatado, jogado fora em prol de alguma forma ‘mais elevada’. Acredito que Deus, em Seu Amor incompreensível, se importe mesmo com o “Emiliano”. Sem dúvida Ele tem poder para me transformar, numa próxima reencarnação, em um importante e asseado empresário, paciente, solicito e torcedor d’algum time tricolor de torcida recatada, apesar de pouco expressiva. Seria uma ‘evolução’**, mas aí não seria o Emiliano, não seria eu. Eu teria sido ‘resetado’ em alguma coisa diferente, e Deus quer a mim, a você, a nós do nosso jeito.
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Mas isso não é tudo, penso que Deus tenha o mesmo apreço em relação a toda Sua Criação. E partindo daí, acho difícil entender algumas doutrinas Cristãs acerca do que vai acontecer ‘no fim’ (a tal da escatologia). Entendo NADA do assunto, apenas penso com os meus botões que, o projeto de Deus para a Criação (todo o Universo), também é um projeto de redenção, não de “reset” .
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Essa dúvida particular me pulou na cabeça quando eu estava conversando (quase brigando) com a minha pequena acerca do assunto. Ela estava falando da obra que ela está lendo: “Deixados Pra Trás”. Ela me conta que no último dos 13 livros, que fala sobre o milenio, os autores retratam uma Criação refeita por Deus após 12 livros de cataclismas apocalípticos. Criação essa, descrita como “mais abundante” do que a anterior.
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OK, talvez exista uma ou duas referências Bíblicas bonitinhas e incontestáveis para justificar essa interpretação dos autores, mas eu fiquei pensando: “Como é possível? Como pode?”. Fiquei pensando nesse milênio, cheio de florestas que cresceram do dia para noite, pomares, com leopardos, zebras, gnus e, até onde sabemos, tiranossauros e Achantostegas, convivendo pacificamente. Com uma diversidade ainda mais abundante e embasbacante que as 300.000 espécies de besouro que temos hoje (talvez com muitas mais recentemente ‘inventadas’).
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Pensei em tudo isso e voltei a perguntar: “Mas como assim?” Penso que dá mesma forma que eu, todo o resto da Criação tem uma história, uma herança única que da a ela sua beleza (e falo isso me referindo desde as formigas no jardim até às Luas de Saturno). Também nesse sentido, minha esperança não é a do “reset”, mas a da redenção, a do renovo.
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Como imaginar um barato desse? Esse renovo? Acho que isso é assunto para um outro post, mas tenho refletido sobre como o tamanho da Criação pode nos ajudar a ver um Deus ainda maior... talvez faça sentido a citação de Teilhard de Chardin: "incessantemente, ainda que imperceptivelmente, o mundo está constantemente a emergir um pouco mais acima do nada". Nesse sentido, nem aquilo que somos é um HD sendo constantemente formatado pela eternidade e colocado dentro de um PC diferente. E nem a Criação é um fusca velho, quebrado que algum dia ira se transformar, como que da noite pro dia, numa Ferrari, mas sim uma obra em andamento, na qual a Redenção e o Reino de Deus penetram e permeiam “incessantemente, ainda que imperceptivelmente”.
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Viajei grandão né.
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É isso aí
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Paz de Cristo

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*Foi nesse momento que, enquanto escrevia, eu percebi que a metáfora tinha ido longe demais... Já era tarde para voltar atrás, no entanto.
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**isso é discutível...

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