terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Cristianismo e Evolucionismo em 101 Perguntas e Respostas - por John F. Haght

Esse é o segundo livro que leio do Teologo Católico John F. Haught sobre a influência da ciência moderna, em particular a biologia evolutiva, sobre a teologia e vice-versa. O outro livro "Deus Após Darwin" é mais aprofundado em aspéctos teologicos enquanto que "Cristianismo e Evolucionismo em 101 Perguntas e Respostas" me parece mais introdutório, claro e -por ser organizado em forma de 'perguntas e respostas' bastante direto (e excessivamente resumido). Como acontece, não concordo 100% com as idéias do homem, mas recomendo as duas obras, penso que Haught nos ajuda a expandir nossa visão e, com auxilio da ciência moderna, ter uma visão maior do Deus Criador (ando pensando muito em como a ciência tem um papel em 'desprovincianizar' algumas de nossas concepções religiosas, o que pode nos ajudar a pensar [em] Deus um poquim melhor. Além disso, a própria ciência pode ser um jeito de dar Louvor ao Criador [LEIA AQUI]).
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De qualquer jeito, ainda estou na pergunta 63 (mais ou menos), mas já posso dizer que o livro é bacana e instigante. Para outras opiniões, tem um blog lusitano, 'Companhia dos Filosofos' que postou uma resenha acerca do livro (AQUI) - o livro, alias, foi traduzido por uma editora lusitana e está em portugues de portugal - Alem disso, postaram também uma resenha no site irmãos.com (AQUI).
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Resolvi também transcrever um pequeno trecho do livro (uma resposta particular que considerei bastante interessante). Aí vai:
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Como é que a evolução altera a nossa compreensão de Deus?
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Uma perspectiva evolucionista propõe, antes de mais, uma grande mudança na forma como localizamos a transcendência divina. Podemos hoje talvez afirmar que Deus não está apenas “lá em cima”, mas também “mais adiante”. De acordo com a formulação de Karl Rahner Deus é o Futuro Absoluto. A reflexão sobre o processo evolucionário tem ajudado a teologia a recuperar o profundo sentido bíblico de Deus como Aquele que Se relaciona com o mundo dando-lhe promessas ainda por realizar. Deus vem do futuro a este mundo ainda inacabado e cria-o de novo, a partir do futuro. Uma teologia da evolução pensa Deus e a promessa de Deus em termos da “futuridade” do ser, e não em termos de uma eterna e imóvel presença, a pairar “lá em cima”. Isto, porém, não é tanto uma mudança qualitativa na nossa compreensão de Deus, mas mais uma recuperação radical de intuições bíblicas esquecidas acerca da realidade última.
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Em segundo lugar, a epopeia da evolução expande a nossa compreensão de Deus, fazendo-nos tomar consciência de que o amor divino abraça o destino de todo cosmos. Assim, já não podemos legitimamente separar as nossas aspirações pessoais daquele que vier a ser o destino da criação inteira. Enquanto as religiões acreditavam num universo estático, talvez fosse compreensível que a esperança humana pudesse tomar a forma de vislumbrar um destino algo individualista num outro mundo, completamente diferente deste. Este “optimismo de retirada” , como o apelida Teilhard de Chardin, dominou a espiritualidade ocidental ao longo dos séculos. A evolução, no entanto, diz-nos que estamos ligados a um universo mais amplo e a uma grandiosa história de vida, num prolongado processo de “vir-a-ser”. O renovado sentido de “ser um” com o cosmos oferece à nossa esperança um horizonte verdadeiramente novo. A evolução dá às nossas vidas um sentido mais forte do que nunca de sermos participantes do processo em curso de uma história cósmica da criação.
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Finalmente, a evolução deu um acento novo àquilo que podemos chamar graça divina. A graça divina permite que possa haver um universo “contigente”, um universo que não é modelado por uma necessidade determinística. Num mundo assim, o acaso ou os acidentes podem ocorrer. A teologia não deveria ter-se surpreendido, deveria antes ter esperado que o mundo criado fosse aberto ao tipo de contingência e de aleatoridade que encontramos na evolução da vida. O próprio São Tomás de Aquino defendeu que um universo totalmente dominado pela necessidade não seria distinto de Deus. O mundo, para ser mundo, tem de ter elementos de não-necessidade ou de contingência. “Seria contrário à natureza da Providência e à perfeição do mundo”, disse São Tomás, “se nada acontecesse por acaso.”
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Apenas um cosmos independente poderia dialogar ou ter a verdadeira intimidade com Deus. Sob este ponto de vista, portanto, a epopeia da evolução é a história da independência e autonomia emergentes de um mundo que está a despertar na presença da graça de Deus. E a graça divina, como Karl Rhaner muitas vezes também sublinhou, torna o mundo mais autónomo, e não menos. Na presença de Deus, o universo não se dissolve no nada ou em Deus, mas torna-se antes um mundo distinto do seu Criador. A evolução, portanto, permite-nos sentir profundamente essa convicção primordial bíblica de que Deus é Amor gracioso e libertador.
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Paz de Cristo

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Deus não dá “reset”

É o que eu penso! Deus não dá “reset”. Ele não desiste –embora já tenha pensado sériamente no caso – Ele não se entrega (dãh). Mas o impressionante mesmo é que Ele não nos entrega (ao diabo, ao “deus dará” ou o que seja).
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Talvez seja esse o significado mais profundo que eu encontrei no relato Bíblico do dilúvio, talvez seja esse o significado do Arco-Iris, a promessa de Deus que Ele nunca mais (nunca mais mesmo) vai dar “reset” na sua Criação.
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Sem dúvida, o fato de eu pensar assim esta no cerne de porque eu não engulo a doutrina Espirita do reencarnacionismo, bem como certas interpretações escatológicas.
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(PARENTESES: no meio evangélico, onde, para muita gente ‘apologética’ é meter o pau na crença (ou descrença) alheia – algumas vezes falando um bocado de groselha – a gente tem que ter cuidado pra falar de coisa que não concorda, principalmente quando –e é o meu caso – não se é expert naquilo que se está criticando. Este aqui se propõe a ser um texto sóbrio e respeitoso de alguém que reconhece que pode estar muito bem falando merda, e cujo principal objetivo não é meter o pau na crença de ninguém. Antes, trata-se de um reflexo do meu anseio para entender algumas coisas e, no meio das chuvas catastróficas que tem abalado minha cidade, poder, no fim de tarde, olhar para um arco-iris, sabendo que aquilo significa que Deus não vai dar “reset”. Mesmo nesta cidade que, se fosse um PC, mereceria muito bem ser “formatada” )
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Mas é o que me parece sim. A meu ver, acreditar em reencarnação equivale a acreditar que sua alma é “formatada” de geração em geração. Para começar, já faz um tempo que eu não acredito muito em 'alma', pelo menos não no conceito de "essência pessoal separada da matéria". Essa história da distinção entre corpo e alma/ material e espiritual é basicamente uma herança do pensamento pagão grego para o Cristianismo (que influenciou grandão caras como Paulo e principalmente Agostinho). Não vou me aprofundar muito no assunto para não acabar falando bobagem (se é que já não é tarde), basta dizer que se eu acredito em 'alma', isso para mim se traduz nos padrões sinapticos dos neuronios dos nossos cérebros que determinam quem nós somos e são determinados, em certa medida, pela nossa herança genética, pelas nossas experiências etc. Em suma: você não é dividido em hardware e software, você é uma coisa só, integrada. Você é você! Se eu acredito que você, eu e todo mundo possui uma saída USB * que se conecta ao Transcendente (ao Espirito de Deus) a resposta é sim, mas não acredito em alma ‘fantasminha’.
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E neste sentido, também não me parece coerente com o pouquinho que eu conheço de Deus que a alma ou espírito seja submetido a diversas ‘formatações’ e aquilo que se chama “Emiliano” seja perdido, formatado, jogado fora em prol de alguma forma ‘mais elevada’. Acredito que Deus, em Seu Amor incompreensível, se importe mesmo com o “Emiliano”. Sem dúvida Ele tem poder para me transformar, numa próxima reencarnação, em um importante e asseado empresário, paciente, solicito e torcedor d’algum time tricolor de torcida recatada, apesar de pouco expressiva. Seria uma ‘evolução’**, mas aí não seria o Emiliano, não seria eu. Eu teria sido ‘resetado’ em alguma coisa diferente, e Deus quer a mim, a você, a nós do nosso jeito.
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Mas isso não é tudo, penso que Deus tenha o mesmo apreço em relação a toda Sua Criação. E partindo daí, acho difícil entender algumas doutrinas Cristãs acerca do que vai acontecer ‘no fim’ (a tal da escatologia). Entendo NADA do assunto, apenas penso com os meus botões que, o projeto de Deus para a Criação (todo o Universo), também é um projeto de redenção, não de “reset” .
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Essa dúvida particular me pulou na cabeça quando eu estava conversando (quase brigando) com a minha pequena acerca do assunto. Ela estava falando da obra que ela está lendo: “Deixados Pra Trás”. Ela me conta que no último dos 13 livros, que fala sobre o milenio, os autores retratam uma Criação refeita por Deus após 12 livros de cataclismas apocalípticos. Criação essa, descrita como “mais abundante” do que a anterior.
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OK, talvez exista uma ou duas referências Bíblicas bonitinhas e incontestáveis para justificar essa interpretação dos autores, mas eu fiquei pensando: “Como é possível? Como pode?”. Fiquei pensando nesse milênio, cheio de florestas que cresceram do dia para noite, pomares, com leopardos, zebras, gnus e, até onde sabemos, tiranossauros e Achantostegas, convivendo pacificamente. Com uma diversidade ainda mais abundante e embasbacante que as 300.000 espécies de besouro que temos hoje (talvez com muitas mais recentemente ‘inventadas’).
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Pensei em tudo isso e voltei a perguntar: “Mas como assim?” Penso que dá mesma forma que eu, todo o resto da Criação tem uma história, uma herança única que da a ela sua beleza (e falo isso me referindo desde as formigas no jardim até às Luas de Saturno). Também nesse sentido, minha esperança não é a do “reset”, mas a da redenção, a do renovo.
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Como imaginar um barato desse? Esse renovo? Acho que isso é assunto para um outro post, mas tenho refletido sobre como o tamanho da Criação pode nos ajudar a ver um Deus ainda maior... talvez faça sentido a citação de Teilhard de Chardin: "incessantemente, ainda que imperceptivelmente, o mundo está constantemente a emergir um pouco mais acima do nada". Nesse sentido, nem aquilo que somos é um HD sendo constantemente formatado pela eternidade e colocado dentro de um PC diferente. E nem a Criação é um fusca velho, quebrado que algum dia ira se transformar, como que da noite pro dia, numa Ferrari, mas sim uma obra em andamento, na qual a Redenção e o Reino de Deus penetram e permeiam “incessantemente, ainda que imperceptivelmente”.
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Viajei grandão né.
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É isso aí
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Paz de Cristo

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*Foi nesse momento que, enquanto escrevia, eu percebi que a metáfora tinha ido longe demais... Já era tarde para voltar atrás, no entanto.
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**isso é discutível...

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010


"Eu costumava pensar que os maiores problemas que nosso mundo enfrenta hoje são as mudanças climáticas, o colapso de terras para o cultivo e a perda de biodiversidade. Pensava também que com 30 anos de boa ciência nós poderiamos resolver esses problemas. Eu estava enganado. Os maiores problemas que enfrentamos são a ganância, o egoismo e a apatia, e para isso precisamos de transformação espiritual e cultural. Nós cientistas não sabemos fazer isso". (Gus Speth, ex-reitor da 'Yale School of Forestry and Enviroment').
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Citação retirada DESSE texto, escrito por Ken Wilson
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Paz