Estavamos eu a Pequena e um amigo a caminho de um farto almoço no prédio da editora Abril para o qual haviamos sido convidados por um outro caro amigo. Na saida da USP, no meio do caminho, ví que haviam caido no chão alguns figos de uma figueira. Papo vai, papo vem acabei falando para o tal amigo, enquanto caminhavamos, acerca da intima relação que existem entre figueiras e as vespas que as polenizam. Em linhas gerais, figos que a gente come não são frutas, são flores – ou melhor, inflorescências. Os figos são polenizados quando vespas entram dentro deles (por aquele ‘buraquinho na bunda do figo’) e botam ali seus ovos. Os ovos mais tarde eclodem e logo, vespinhas com o corpo cheio de pólen estão voando por aí em busca de um novo figo para botar seus ovos (e de quebra fecundar algumas florzinhas de figo com o polén). Para cada espécie de figueira existe uma espécie respectiva de vespa.
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Meu amigo ficou com aquele olhar pensativo e, como resposta a minha breve (e incompleta) explicação, mandou a frase que resultou neste post: “Isso é muito de Deus”. Imediatamente luzes vermelhas se acenderam na minha cabeça, me veio o nó na garganta que só quem é verdadeiramente chato em relação a algum assunto sabe como se sente (aquela necessidade incontrolavel de fazer o seu ponto de vista se impor. É o que geralmente acontece com alguns Corinthianos quando contestam o campeonato mundial conquistado em 2000; com alguns fãs de metal progressivo quando alguem fala que o melhor album do Dream Theater é o Six Degrees of Inner Turbulence [e é mesmo]; ou quando duas pessoas começam a discutir acerca de assuntos como cotas, aborto ou heróis da Marvel). Enfim... O sangue me subiu a façe e eu estáva pronto e preparado para dar, ao meu amigo, uma detalhada explicação a respeito de todos os processos evolutivos que deram origem a essa estreita relação entre os figos e as vespas. Um processo incrivel de co-evolução a medida em que as flores das árvores ancestrais de figo se tornavam cada vez mais compactas e condensadas: primeiro como umbelas, depois como capitulos, depois com capitulos mais e mais fechadinhos até chegar no figo. E, simultaneamente as espécies de vespas se especializavam, mais e mais, em se reproduzir, se alimentar e de quebra polenizar, o figo. Ia ser moleza, uma vez que eu acabei de ler essa semana “Escalando o Monte Improvavel” e o Dawkins utiliza precisamente esse como o seu ultimo exemplo de como a evolução, a partir de seleção da variabilidade existente, proveniente de mutações genicas, pode produzir a complexidade tamanha que observamos na vida na terra.
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Já estava abrindo a boca para explicar para meu amigo, tin-tin por tin-tin toda a história. quando um pensamento me conteve. Repeti na minha cabeça a frase do meu colega: “Isso é muito de Deus”. Pausei um pouco para refletir. Ora, afinal de contas, ele estava certo! Eu pelo menos, como meu amigo, creio e estou pronto para testemunhar que há um Deus. Que esse Deus criou todo o nosso universo. Que Ele se relaciona com sua Criação, e que Se revelou a nós a partr de Jesus Cristo. E que esse Deus está intimamente relacionado com tudo que é figos e vespas nesse planetazinho. Essas coisas são, sem dúvida, “de Deus”.
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Então onde estáva o problema? Penso que ele estava implicito! Para o meu amigo, Deus estava atrás do monte improvavel (as complexas relações entre figos e vespas). E o fato de que para ele o monte improvavel parecia um “Monte impossivel” nos remeteria ao Deus Criador, cheio de cuidados e caprichos. Ele não via a suave escalada do lado detrás do monte improvavel. Precisamente a “trilha” que eu estava prestes a abrir a boca para explicar para ele que alí estava. Longe de ser um “monte impossivel”, tratava-se, no final das contas de um “monte extremamente possivel”. Atrás dele havia uma trilha suave, tranquila e pouco ingreme, que subia de forma gradativa até o topo.
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Acho que nunca havia sentido a tensão entre a ciência que eu estudo e a fé que professo de forma tão clara quanto ali, no caminho até o predio da editora Abril. O que, afinal de contas, estava atrás do “monte improvavel”? Deus, ou uma trilha?
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Dawkins deixa a resposta dele extremamente clara ao longo de cada um de seus livros: Existe uma trilha, sempre uma trilha para cada monte improvavel (os olhos dos vertebrados, o cérebro humano, o voô dos morcegos, o comportamento reprodutivo de aves e as teias de aranha. Cada um desses “montes” tem atrás de si uma escalada tranquila cheia de intermediarios e sem quaisquer passagens ingremes). Uma trilha, e nada mais.
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O meu amigo, por outro lado, vê os “montes” improvaveis como o prédio da Abril: grandes monumentos, jamais passiveis de serem erigidos pela martelação cega das próprias forças naturais. Atrás de cada um deles há Deus. E Deus está lá justamente porque não há trilha alguma.
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Discordo dos dois.
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Concordo com os dois: Concordo com Dawkins. É inegavel, há uma trilha atrás do monte improvável. A trilha pode ser mais ou menos ingreme, mas é sempre uma trilha que o jumentinho chamado “seleção natural” e cujas pernas tem a medida da “variabilidade genética da população” pode trilhar. Dentre os “montes improvaveis” que são os seres vivos e suas caracteristicas, nunca encontraram um que não contivesse uma trilha com uma encosta tão ingreme que os musculos do jumentinho não pudessem subir, nem um caminho por detras do monte com uma vala tão grande que as pernas do jumentinho fossem curtas para cruza-lo.
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Concordo também com meu amigo: “Isso é muito de Deus”. Não apenas concordo, como uso esse post para exaltar a singela sabedoria dessas palavras (esse meu amigo é um cara muito sabio. Do tipo que sem se ligar acaba ensinando toda sorte de coisa sobre a vida pra gente). A história das vespas e dos figos. A história de tudo que é inseto polenizando tudo que é flor, de tudo que é hymenoptera, de tudo que é planta. Não apenas o ciclo ecológico tão equilibrado e dinâmico, mas também a história própriamente dita, a história natural: o desenvolvimento gradual dessas mesmas relações ecológicas desde seu principio através de cada geração: “Isso é muito de Deus”.
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Voltamos a conversar mais tarde e meu amigo se lembrou das palavras do Chesterton, de que na verdade as tais regularidades e “leis da natureza” são causalidades tão incriveis e encantadora quanto aquelas dos contos de fada (a carruagem vira abobora a meia-noite, a princesa é desperatada apenas com o beijo do principe). E cada uma dessas regularidades se parece mais com mágica do que com leis cientificas áridas. Talvez a trilha atrás do monte possa parecer, a primeira vista, arida e vazia, mas para mim (e acho que meu amigo talvez fosse gostar desse modo de ver as coisas), ela se parece mais com uma estrada de tijolos dourados, cheia daquele maravilhamento de contos de fadas do qual a ciência é cheia, e não vazia.
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Meu amigo ficou com aquele olhar pensativo e, como resposta a minha breve (e incompleta) explicação, mandou a frase que resultou neste post: “Isso é muito de Deus”. Imediatamente luzes vermelhas se acenderam na minha cabeça, me veio o nó na garganta que só quem é verdadeiramente chato em relação a algum assunto sabe como se sente (aquela necessidade incontrolavel de fazer o seu ponto de vista se impor. É o que geralmente acontece com alguns Corinthianos quando contestam o campeonato mundial conquistado em 2000; com alguns fãs de metal progressivo quando alguem fala que o melhor album do Dream Theater é o Six Degrees of Inner Turbulence [e é mesmo]; ou quando duas pessoas começam a discutir acerca de assuntos como cotas, aborto ou heróis da Marvel). Enfim... O sangue me subiu a façe e eu estáva pronto e preparado para dar, ao meu amigo, uma detalhada explicação a respeito de todos os processos evolutivos que deram origem a essa estreita relação entre os figos e as vespas. Um processo incrivel de co-evolução a medida em que as flores das árvores ancestrais de figo se tornavam cada vez mais compactas e condensadas: primeiro como umbelas, depois como capitulos, depois com capitulos mais e mais fechadinhos até chegar no figo. E, simultaneamente as espécies de vespas se especializavam, mais e mais, em se reproduzir, se alimentar e de quebra polenizar, o figo. Ia ser moleza, uma vez que eu acabei de ler essa semana “Escalando o Monte Improvavel” e o Dawkins utiliza precisamente esse como o seu ultimo exemplo de como a evolução, a partir de seleção da variabilidade existente, proveniente de mutações genicas, pode produzir a complexidade tamanha que observamos na vida na terra.
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Já estava abrindo a boca para explicar para meu amigo, tin-tin por tin-tin toda a história. quando um pensamento me conteve. Repeti na minha cabeça a frase do meu colega: “Isso é muito de Deus”. Pausei um pouco para refletir. Ora, afinal de contas, ele estava certo! Eu pelo menos, como meu amigo, creio e estou pronto para testemunhar que há um Deus. Que esse Deus criou todo o nosso universo. Que Ele se relaciona com sua Criação, e que Se revelou a nós a partr de Jesus Cristo. E que esse Deus está intimamente relacionado com tudo que é figos e vespas nesse planetazinho. Essas coisas são, sem dúvida, “de Deus”.
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Então onde estáva o problema? Penso que ele estava implicito! Para o meu amigo, Deus estava atrás do monte improvavel (as complexas relações entre figos e vespas). E o fato de que para ele o monte improvavel parecia um “Monte impossivel” nos remeteria ao Deus Criador, cheio de cuidados e caprichos. Ele não via a suave escalada do lado detrás do monte improvavel. Precisamente a “trilha” que eu estava prestes a abrir a boca para explicar para ele que alí estava. Longe de ser um “monte impossivel”, tratava-se, no final das contas de um “monte extremamente possivel”. Atrás dele havia uma trilha suave, tranquila e pouco ingreme, que subia de forma gradativa até o topo.
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Acho que nunca havia sentido a tensão entre a ciência que eu estudo e a fé que professo de forma tão clara quanto ali, no caminho até o predio da editora Abril. O que, afinal de contas, estava atrás do “monte improvavel”? Deus, ou uma trilha?
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Dawkins deixa a resposta dele extremamente clara ao longo de cada um de seus livros: Existe uma trilha, sempre uma trilha para cada monte improvavel (os olhos dos vertebrados, o cérebro humano, o voô dos morcegos, o comportamento reprodutivo de aves e as teias de aranha. Cada um desses “montes” tem atrás de si uma escalada tranquila cheia de intermediarios e sem quaisquer passagens ingremes). Uma trilha, e nada mais.
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O meu amigo, por outro lado, vê os “montes” improvaveis como o prédio da Abril: grandes monumentos, jamais passiveis de serem erigidos pela martelação cega das próprias forças naturais. Atrás de cada um deles há Deus. E Deus está lá justamente porque não há trilha alguma.
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Discordo dos dois.
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Concordo com os dois: Concordo com Dawkins. É inegavel, há uma trilha atrás do monte improvável. A trilha pode ser mais ou menos ingreme, mas é sempre uma trilha que o jumentinho chamado “seleção natural” e cujas pernas tem a medida da “variabilidade genética da população” pode trilhar. Dentre os “montes improvaveis” que são os seres vivos e suas caracteristicas, nunca encontraram um que não contivesse uma trilha com uma encosta tão ingreme que os musculos do jumentinho não pudessem subir, nem um caminho por detras do monte com uma vala tão grande que as pernas do jumentinho fossem curtas para cruza-lo.
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Concordo também com meu amigo: “Isso é muito de Deus”. Não apenas concordo, como uso esse post para exaltar a singela sabedoria dessas palavras (esse meu amigo é um cara muito sabio. Do tipo que sem se ligar acaba ensinando toda sorte de coisa sobre a vida pra gente). A história das vespas e dos figos. A história de tudo que é inseto polenizando tudo que é flor, de tudo que é hymenoptera, de tudo que é planta. Não apenas o ciclo ecológico tão equilibrado e dinâmico, mas também a história própriamente dita, a história natural: o desenvolvimento gradual dessas mesmas relações ecológicas desde seu principio através de cada geração: “Isso é muito de Deus”.
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Voltamos a conversar mais tarde e meu amigo se lembrou das palavras do Chesterton, de que na verdade as tais regularidades e “leis da natureza” são causalidades tão incriveis e encantadora quanto aquelas dos contos de fada (a carruagem vira abobora a meia-noite, a princesa é desperatada apenas com o beijo do principe). E cada uma dessas regularidades se parece mais com mágica do que com leis cientificas áridas. Talvez a trilha atrás do monte possa parecer, a primeira vista, arida e vazia, mas para mim (e acho que meu amigo talvez fosse gostar desse modo de ver as coisas), ela se parece mais com uma estrada de tijolos dourados, cheia daquele maravilhamento de contos de fadas do qual a ciência é cheia, e não vazia.
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Paz de Cristo
2 comentários:
Oieeeeeee.
Como é bom ler o que você escreve amigo!
Temos um humor afrodescendente (negro é crime) um tanto rebelde, estilo zumbi, né?
Amei o post!
E saiba que agora entendo porque havia larvinhas em muitos figos que eu comi...rsrsrs
As sementinhas se mexiam... Eram vespas bebês?
Não faço idéia. Mas tinham gosto de figo e eu comi assim mesmo... rsrsrs
Saudade Guri!!!!
Blessed Be!
Hey!!! Druuna!!!!
Saudades também!
Não entendi a história do Zumbi! Vi que você ressussitou o seu blog! Legal!
Puxa, fico feliz que você curte ler o blog!
Olha! As "larvinhas" que você comeu podiam muito bem ser: I)larvas ou pupas de vespas; II) vespas machos adultos (os machos não tem asas e vivem a vida toda nos figos); III) larvas/pupas ou machos de alguma outra espécie de vespa parasita (pois existem espécies de vespa que usam os figos pra botar ovos, mas não os polenizam, algumas vezes tirando proveito das vespas que de fato polenizam os figos) ou IV) Alguma outra coisa que eu não sei
Incrivel né...Muita coisa acontece nos Figos!
Fica na Paz de Cristo
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